terça-feira, 10 de novembro de 2009

Três perguntas a Alex Calheiros

Alex Calheiros participou no início do mês do 2º Café Filosófico e Literário da UFSC.

Cine Luz: O que despertou o seu interesse pelo cinema italiano?
Alex: O interesse pelo cinema italiano sofreu várias interferências. Não decidi obviamente do dia para a noite escrever minha tese de doutorado sobre o neo-realismo italiano. Fatos objetivos e subjetivos fizeram parte de uma trajetória longa. Comecei meus estudos no departamento de filosofia, um departamento fortemente historiográfico. Ao longo do curso fui contempaldo com uma bolsa de iniciação científica na área de história da filosofia medieval, sob a orientação do professor Moacyr Novaes e também participava ativamente de um grupo de estudos sobre ceticismo com o professor Oswaldo Porchat. Mas, além de atividades acadêmicas intensas, eu tinha uma bolsa de estagiário no cinema da Universidade de São Paulo (Cinusp Paulo Emílio), exercendo as funções de projecionista e também de programador. Num momento muito peculiar (eu vivia uma certa crise com a excessiva escolarização nas pesquisas), o Cinusp e a prefeitura de São Paulo apoiam uma mostra com a obra completa de Visconti. Naquele momento eu decidi fazer minha tese sobre o primeiro filme dirigido por Visconti, Ossessione, compreendendo-o justamente a partir de uma série de forças políticas e estéticas. Enfim, uma tese com um forte acento no contexto histórico no qual o neo-realismo surgiu.

Cine Luz: Há heranças do neo-realismo italiano no cinema contemporâneo?
Alex: Certamente. O movimento é o advento do cinema moderno. Basta ler os livros de Delueze, Cinema 1: A Imagem-Movimento e Cinema 2: A Imagem-Tempo. Esquematicamente os livros de Deleuze tratam do cinema clássico e do cinema moderno, o primeiro volume o Cinema Clássico e o segundo volume, o Cinema Moderno. Curiosamente o segundo volume abre justamente falando do neo-realismo. Para além de Deleuze, um caso curioso na teoria do cinema, outros tantos não criam dúvidas acerca da importância do neo-realismo no contexto da modernidade cinematográfica. Mas, é claro, é sempre complicado atribuir uma paternidade. O cinema moderno tem muitas referências. Mas o neo-realismo é certamente uma das mais importantes. Eu particularmente tenho problemas com clichês, mas grosso modo o uso de atores não profissionais, as filmagens em externo, a iluminação natural e sobretudo um tom humanista presente nas histórias são heranças neo-realistas.

Cine Luz: É possível estabelecer relações do cinema de Pasolini com o reo-realismo?
Alex: O neo-realismo, como já foi dito, tem uma importância fundamental para o cinema moderno como um todo. Na itália a presença do neo-realismo é especialmente marcante. Para Pasolini e para a maioria dos cineastas italianos o neo-realismo tem um papel mítico. Há uma série de poesias e relatos nos quais Pasolini se refere explicitamente a esta herança. Nos primeiros filmes, a chamada triologia romana, podemos dizer com absoluta certeza que o neo-realismo alimenta as escolhas estéticas, temáticas, etc, dos filmes. Mas depois Pasolini toma um caminho muito particular, eu não diria contrário ao neo-realismo, mas todavia de superação daquele projeto estético e político.

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