sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sobre O Fusca Gelo, do Silveira de Souza

Jorge ao volante do fusca azul. Está feliz. Liga o rádio. Percorre com os olhos os prédios em extensos labirintos. Devassa ruas estreitas e tortuosas da cidade. Paralepípedos, meios-fios, calotas e pneus. Sinaleira vermelha. Jorge reduz e pára o carro. Céu límpido. Outro fusca estaciona ao lado do seu. É um um fusca gelo, talvez 67. Ao volante, uma mulher, cabelos esvoaçantes. A mulher é Mirna. Seus rosto é longo. Seus olhos são verdes. Ela olha para Jorge. É um olhar oblíquo, pontuado de intenções. Jorge se entusiasma. Sinal verde. Mirna arranca na frente. Jorge segue, mas outro carro se põe entre os dois fuscas. Ondas do mar, ondas imensas estouram numa praia. Mirna está distante, toma uma rua à esquerda. Jorge se antecipa e toma uma rua à direita, certo de que iria reencontrar a mulher num entroncamento adiante. Ao chegar no próximo cruzamento, Mirna vem na direção transversal, passando à frente de Jorge. Os olhos da mulher o fitam. Ondas deslizam na areia de uma praia. Jorge aguarda por outros carros que passam a sua frente. Segue a moça. Entram numa rua repleta de casarios, pequenas lojas de armarinhos, sapatarias modestas, armazéns com sacas de feijão à entrada das portas, bares apertados entre paredes estreitas, lojas de alfaiates falidos. Entre o fusca de Jorge e de Mirna há outros três carros. Seguem em fila indiana. Um guarda espera que os dois primeiros automóveis passem e interrompe o tráfego. Mirna segue à esquerda por dois quarteirões e desaparece da vista de Jorge. Surge a imagem de uma imensa duna. Vento sul. Árvores em movimento. Homens ao volante trafegam pela avenida beira-mar. Solitários. Movem a marcha dos automóveis, pés nos pedais, aceleram.

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