segunda-feira, 5 de abril de 2010

mulheres ou meu adorável verbo

estou num baile, as mulheres são bonitas, uma delas se aproxima, é minha amiga, mas nem lembro o nome dela, nem ela do meu, dançamos, ela some na sofreguidão dos passos, mas volta, me beija, beija na boca, beijo de língua, a língua dela me engole, eu engulo ela, um negócio estranho, fratricida, mas logo estou com outra, esguia, me puxa, me sacode, possui uma imensidão de palavras, sugo algumas que me interessam, me aproveito da situação, me livro do evento inóspito, volto à primeira, jovem, prática, impaciente, vocifera quando chego, parto em seguida, esvazio a memória, desmemória, deambulo por um mar latino e me apaixono pela loira de cabelos encaracolados, é deusa, tem uma beleza rústica, agreste, me faz caminhar sobre dunas longínquas, por lagos extensos, mas desaparece como miragem na aridez do deserto, todavia sua passagem me deixa feliz, acho que agora sou o homem feliz que existe no brasil, carpe diem, o futuro é intangível, como um quadro, uma natureza morta, uma fotografia na parede, e me aparece uma segunda via, via de mão dupla, amar amaro, nem gosto, nem desgosto, desvio o olhar geométrico, enxergo estrela, me despeço e visito a enésima, é escrupulosa, cozinha espinafre, extrapola, queima o ovo, vou para a cozinha, corto tomates, leio a bíblia, lavoura de verbos, cópula e morte, como o eliot, mas não quero ser crucificado como jesus, meu parceiro, se não fosse por ele teria me envolvido com uma constelação nociva, ou com o morel, que outro dia me disse que um escritor nada tem a dizer, tem uma maneira de dizer nada.

2 comentários:

  1. são primos, teu texto bonito e o do Agamben – sobre desejar – que eu postei no meu blog

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  2. sim sim, estive lá no seu blog e pude constatar. beijo.

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