sexta-feira, 13 de novembro de 2009

"De duas mortes e de três nascimentos"

"Meu filme nasce uma primeira vez na minha cabeça, morre no papel; é ressuscitado pelas pessoas vivas e os objetos reais que utilizo, que são mortos na película, mas que, colocados numa certa ordem e projetados numa tela, se reanimam como flores na água".
A frase é um dos aforismos de Roberto Bresson (1907-1999) no livro Notas sobre o cinematógrafo, que acabo de ler. Assisti recentemente o último filme do diretor, L´Argent (O Dinheiro), de 1983, apresentado por Lucian Chaussard no Museu Victor Meirelles.
Depois li o livro, que não é sobre o filme, mas sobre gramática bressoniana. No livro, o autor dá impulso à linguagem cinematográfica. O diretor francês fala de sua preferência por não-atores, que ele chama de modelos. Execra o teatro filmado. "Nada se pode esperar de um cinema ancorado no teatro".
Bresson submete o leitor a pensamentos profundos sobre a narrativa cinematográfica, sobre a eliminação de excessos. "Se o olho está inteiramente conquistado, não dar nada ou quase nada ao ouvido. Não se pode ser ao mesmo tempo totalmente olho e totalmente ouvido".
O cinema autoral de Bresson é inventado como pintura. Talvez seja por esse motivo que ela recomende: "Construa seu filme sobre o branco, sobre o silêncio e sobre a imobilidade". Mas tudo isso que eu reproduzo ou digo é pouco para estabelecer a engenhosidade de Notas sobre o cinematógrafo.

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